Uma corrida no Jardim
Ontem fui correr como um miúdo de 18 anos.
É engraçado as coisas que observamos ao final de tarde num jardim.
Em um dos bancos dois jovens adolescentes namoram enrolados dando longos beijos de paixão. Eu passo por eles como cúpido do amor salpicando pozinhos de amor por cima de um e do outro. Fico extasiado a olhar, uma certa inveja do momento, da pureza, da verdade e dos gestos de paixão.
Continuo a corrido e no fundo do jardim encontro um casal a namorar dentro do carro, passo por eles a correr, ela assusta-se e fica sobre saltada como se não fosse ali o lugar dela. Na segunda passagem tiro as dúvidas que podiam ter ficado na minha memória, ele quase em cima dela a pedir-lhe beijos e abraços, enquanto ela olha para o lado desconfiada com as pessoas que passam no passeio. Não é um lugar comum de namoro, é mais um esconderijo. Inevitavelmente penso que aquela mulher é casada, porque os gestos a denunciam. Mas o engraçado é que ela afasta-o "como que chega para lá seu malandro" mas por outro lado noto que ela está louca de prazer.
Mas continuou, mais uma volta e encontro uma rapariga com os seus vinte anos a passear o cãozinho, inevitavelmente atrás dela vem um homem também a passear o seu cão. Quando volto a passar por eles reparo no olhar daquele homem guloso por meter conversa com a jovem rapariga. Ela desconfiada parece que foge dele e com o tempo acaba mesmo por conseguir.
Mais uma volta e apanho uns ucranianos a beberem um copo, para esquecer as dificuldades da vida e as saudades da sua família. Quase que parei para beber um copo e afogar as coisas que não me têm corrido da forma como eu idealizava nos meus sonhos.
Neste jardim pairava um misto de paixão, traição, falsidade, mundanismo, carência e tantas coisas mais. Dai quase por mim a ver um filme francês repleto de realismo.
Mas de certeza que no meio deste jardim alguém olhava para mim e se questionava o que fazia eu ali.